quinta-feira, 18 de agosto de 2011

- aconteceu comigo


Em meio a matérias de faculdade, encontrei este texto, escrito em novembro de 2007. Deveríamos escrever uma crônica, optando - acredito eu - por algum fato marcante que tenha acontecido em nossa vida.

Definitivamente, isto é algo que eu jamais vou esquecer; tampouco vão aqueles que presenciaram esta cena. Esta é apenas uma das muitas vergonhas que já passei nestes 21 anos de existência. Fico feliz por saber que nem todas vieram a público, como a vez em que derrubei o papel com o resumo do meu seminário de História no vaso sanitário. Mas essa já é uma outra história. . .


O episódio do carro

Ainda me lembro bem daquele dia. Estava ensolarado e insuportavelmente quente. Era quase a hora do almoço e todos os alunos da escola pública na qual eu estudava estavam do lado de fora. Suas conversas provavelmente sem nenhuma importância ecoando juntamente com suas risadas.

E assim também estava eu, enquanto andava em direção à saída, em meio a risos com os amigos mais próximos que tinha na época. Eu não podia imaginar que o que estava prestes a acontecer renderia piadas por grande parte de minha vida.

Como acontecia todos os dias, me despedi de todos eles com um estalado beijo na bochecha e murmurei um "até amanhã". Dei uma rápida olhada ao redor e identifiquei facilmente um Palio Weekend vermelho, estacionado em frente à escola. Não pensei duas vezes. Andei em direção ao veículo, abri a porta, sentei no banco destinado ao passageiro, coloquei o cinto de segurança e, juro que até aquele momento, não tinha percebido que havia alguma coisa errada.

Ao me debruçar para cumprimentar a minha mãe, percebi o que tinha passado despercebido aos meus olhos nada atentos. Levou algum tempo para eu compreender. Não era a mulher que me deu ordens a vida inteira que estava sentada ali. Em seu lugar, estava um homem que eu nunca havia visto na vida. Ele era gorducho, tinha barba e os cabelos estavam começando a rarear nas têmporas. Apesar do olhar divertido que me lançou, a sensação que tive foi que o meu rosto estava pegando fogo.

Sem nem pedir desculpas, saí do carro do desconhecido e fui até onde meus amigos estavam sentados na calçada, as mãos sobre o estômago, vermelhos e sem fôlego de tanto rirem. Um deles ainda conseguiu balbuciar, sem muita firmeza na voz, que minha mãe se encontrava do outro lado da rua. Ao me virar para ela, vi que gargalhava, juntamente com um outro conhecido nosso que estava no carro. Entrei no automóvel (certo, dessa vez) e o que ouvi foi um "sabia que você faria isso".

O pior - ou talvez o mais humilhante - foi encontrar o mesmo homem, estacionado no mesmo lugar, algumas semanas depois. Ele olhou para mim e acenou com aquela expressão no rosto de "ei, eu lembro de você".

Ainda sou obrigada a ouvir diversas versões desta história, em muitas das vezes que encontro as pessoas que partilharam comigo este dia. O que posso fazer? Já fiquei com eles o bastante para presenciar algumas de suas gafes também. Um deles já dançou Xuxa enquanto achava que ninguém estava vendo e o outro já derrubou o portão de uma casa sem querer. Essas coisas acontecem. Faz parte da vida vivenciar gafes e faz parte das gafes aparecer na vida de qualquer um.