segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Iracema


Há algumas semanas peguei emprestado da casa da minha avó o clássico "Memórias póstumas de Brás Cubas". Esse sempre foi um exemplo de livro que acabei empurrando várias vezes para o futuro simplesmente porque sim. Logo na primeira página, a icônica frase: Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas. Sorri.

Como se meus dedos e minha atenção estivessem sendo conduzidos por uma sinalização invisível, encontrei fácil o livro de Machado de Assis, mesmo tendo à minha frente uma estante abarrotada de obras-primas. Fiquei um tempo parada depois, de frente para aquele armário que tantas vezes me serviu de biblioteca. Passei os dedos pelas lombadas de livros que minha avó me ensinou a amar: "Rebecca" (Daphne du Maurier), "O Egípcio" (Mika Waltari), "Morte nas Nuvens" (Agatha Christie), "O Dossiê Pelicano" (John Grisham). Esses livros estavam todos ali, meio empoeirados, é verdade, mas bravamente disputando espaço com outras histórias e uma torrente de lembranças.

Parecia que a qualquer momento eu ouviria a voz da minha avó ou a veria chegando apressada, naquela agitação de mãos e passos que lhe era tão característica. Ela poderia muito bem ter sido pega de surpresa pela minha presença e interrompido uma sessão de palavras-cruzadas só pra ir lá espiar o que eu estava fazendo. Ou melhor: podia ter se assustado comigo ali, parada no corredor da sala, de frente para um armário, depois de voltar de uma escapulida rápida - e proibida - à padaria, à farmácia ou a qualquer outro lugar - ela costumava fazer isso para mostrar que ainda era independente, eu acho.

Apesar de eu ter me detido por um instante, talvez tenha até prendido a respiração sem perceber, ninguém chegou. Ninguém falou. A casa estava vazia, escura, silenciosa. E isso não foi algo específico daquele dia, não. Desde outubro do ano passado não mora mais ninguém ali. Minha avó se mudou para uma clínica por problemas de saúde e deixou para trás uma casa que é e sempre vai ser a cara dela. A casa dela. Construída pelo meu avô, o marido dela. A casa onde brinquei com a minha irmã, a casa onde tantas vezes comemos pizza aos sábados, a casa que por muito tempo tinha bombons Ouro Branco guardados no armário da cozinha. A casa, inclusive, onde li o primeiro livro da minha vida: dele não me lembro quase nada, exceto que uma das personagens era uma sereia, mas tenho a forte impressão de ver a mim mesma, uns 22 anos atrás, sentada no chão, de costas pra parede, enlevada por ter entre as minhas mãozinhas algo capaz de me entreter tanto.

Lembro de um dia ter deixado a minha mamadeira sobre a mesinha da sala e de ter chorado depois de o meu avô ter dito brincando que tinha tomado parte do meu leite. Lembro de abrir o guarda-roupa da minha avó, vestir xales e exibir colares e pulseiras que não eram meus, me olhar no espelho e achar aquilo a melhor coisa do mundo. Lembro dos almoços durante a infância com macarrão ao alho e óleo, folhas de alface gigantes e peito de frango (sim, para os céticos, houve um momento da vida em que eu comia frango).

Minha avó tinha o cabelo tão fininho, dourado e liso que um dia eu disse que ela tinha o cabelo igual ao da Barbie e ela riu. Tinha os olhos verdes e a pele tão branquinha que acabou ganhando a companhia de inúmeras pintas. Ela era danada a véinha. Assistia a Friends de vez em quando - e falava "Xendler", do que eu sempre achei muita graça -, era fã de séries policiais, sabia falar francês. Superviajada. Por muito tempo ela e meu avô se entregaram às estradas e conheceram esse nosso Brasilzão. Só o Norte do país eles não visitaram. Um dia alguém perguntou que tipo de livro ela gostava de ler. Ela nem hesitou: "um bom crime". Ninguém espera isso de uma senhorinha.

Minha avó se chamava Iracema. Iracema Apparecida, com dois pês. Ela pagou o meu curso de inglês todinho, e o da minha irmã também. Comprou um zilhão de roupinhas pra minha Barbie. Patrocinou a nossa ida à autoescola pra tirar a habilitação. Pera aí, essas coisas não aconteceram nessa ordem, acho importante destacar.

Um dia entramos na Siciliano e encontramos um caldeirão cheio de livros. Peguei um, folheei, mas não entendi bem o que era aquilo e por que estava com tanto destaque. Confesso que não dei muita bola. Mas minha avó virou pra mim e disse "ouvi dizer que as crianças estão fazendo fila na Inglaterra por isso". Ela foi ao caixa, pagou e me entregou a sacola. Aos 10 anos, meio que sem expectativas, conheci Harry Potter. "Érri Potter", ela diria. Depois disso ganhei quase a coleção inteira de presente dela - o único que veio de outra fonte foi o quinto livro, "Harry Potter e a Ordem da Fênix". Ela até tentou acompanhar a saga, mas se cansou no segundo ou no terceiro, eu acho. Acredito que os crimes cometidos no mundo mágico eram água com açúcar demais pra ela.

Avós têm a opinião mais suspeita do mundo. Minha avó me achava tão, tão linda. Aliás, não só eu; a minha irmã também. Ela dizia isso sempre: pra nós, para os meus pais, para vizinhos e até para semidesconhecidos. "Oi, Fulano, essa é a minha neta. Ela não é linda?". Isso aconteceu de verdade. Quando o assunto é bisneto, então, Virgem Maria. Minha avó era louca pelo meu sobrinho. 

Às vezes, de manhã, quando eu estava saindo para o trabalho, ela saía ao portão, de camisola e alguma blusa de lã por cima, para me dar tchau. Na maioria das vezes forçava o rosto contra o portão pra me dar um beijinho. À noite ela me perguntava "Brunella, tá com fome?". Invariavelmente ouvia um "sim" e, meio sacana, dizia "eu já jantei, graças a Deus". Quase sempre me esperava chegar das aulas de yoga pra ir dormir. Ficava encostadinha na janela, do lado de dentro da casa, olhando pra mim na garagem, aqueles olhos verdes irradiando amor.

Eu nunca chamei a minha avó de "vó". Ela era a Cema. Simples assim. E, apesar de nos últimos meses eu a ter visto pouco - culpa minha, mas é que era dolorido demais ir pra clínica e vê-la se apagando aos pouquinhos -, ela levantava os olhos pra mim e ensaiava um sorriso. Acho que não é tudo o que a memória tem capacidade de esquecer.

No último dia 11 de julho acordei de madrugada com uma movimentação estranha em casa. Minha mãe me olhou e disse três palavras: "a Cema. Foi". Por algum motivo muito estranho só consegui chorar horas depois. Foi estranho também vê-la depois, imóvel, vestindo uma blusa que ela adorava. O cabelo de Barbie todo branquinho. Segurei sua mão. Tão gelada quanto eu imaginava que estaria.

Minha avó não estava bem de saúde e passou dias e dias e mais dias no hospital, se recuperando não sei bem do que, pra ser sincera. Depois que meu avô morreu, em 2005, ela começou a reclamar da solidão. Não sei dizer se ela era realmente feliz. Mas ela dava boas gargalhadas todas as vezes em que eu contava uma piada quando era criança. Fico feliz por saber que ela me viu crescer e gostou da pessoa em que eu me transformei. Ela me entregava cartões em todo aniversário e, sempre que podia, vinha correndo me dar um abraço. "Deixa eu dar um abraço na minha querida", ela dizia. Justo ela, que não era tão apegada assim a abraços. Que sorte a minha.

Ao olhar pra casa dela ainda é difícil de acreditar. Demorei a escrever algo pra ela porque parte de mim se recusa a fechar o portão e a dar tchau. Somos vizinhas, poxa. Sempre fomos. Me consolo no fato de que ela está em outra casa agora. Uma casa melhor do que aquela que meu avô construiu. Espero que, a essa altura, ela já tenha encontrado seus pais, seu irmão, seu marido, sua amiga Norma, tanta gente que partiu primeiro.

Obrigada por ser e por ter sido a minha avó. Obrigada por fazer tanta falta.

Obrigada pelo seu nome ser o título de um dos meus livros preferidos do José de Alencar. Se ele soubesse como você era branquinha, tenho certeza que teria descrito a virgem dos lábios de mel de outra maneira.

Ah, e o mais importante de tudo: feliz aniversário. Não é porque você não está aqui neste 10 de agosto, fora do alcance dos olhos e das mãos, que a gente não precisa comemorar os seus 89 anos, né? 💛

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Tchau, linda

Acho que a vovó vai partir em breve.

Seu brilho tem se apagado de pouquinho em pouquinho e, minuto após minuto, as coisas mais banais vão ganhando níveis extraordinários de dificuldade: comer, beber, abrir os olhos. Depois de vencer uma pneumonia, aos 94 anos de idade ela lida com aquela que é a batalha mais difícil de todas e, ao mesmo tempo, a qual sempre soubemos que chegaria: o desapego final da vida.

A vovó sempre foi uma mulher muito forte. Ralou pra caramba para cuidar da minha mãe e dos meus três tios, morou em uma casa que sofria com enchentes, lidou com os entraves que envolveram educar um filho deficiente. Ficou viúva bem cedo. Aos 80 ainda pintava com frequência seus lindos panos de prato e fazia bonecas para vender.

Sua casa sempre teve cheiro de pipoca. Ela fazia a melhor massa folhada de banana desse mundo - e sabia disso. Suas paredes continham quadros de Jesus, Iemanjá, ciganas e belas paisagens, todos assinados por ela. Quer dizer, quase todos. Às vezes um deles disputava a atenção com alguma obra-prima de sua irmã, extremamente talentosa para a pintura e também dona de uma luz irresistível.

Vovó tinha muitos livros, especialmente livros espíritas, e se você emprestava algum pra ela, qualquer um, provavelmente o reencontraria com a frase "Pertence à Jacyra" escrita nas primeiras páginas. É, ela era malandra. Nos tempos áureos ela assistia a muitos filmes, colocava e tirava fitas cassetes e até DVDs dos aparelhos. Seus favoritos eram desenhos animados, filmes de fadas, filmes que retratassem Jesus e "A Princesinha", de 1995 e o qual sou capaz de reconhecer só pela música de tantas vezes que assisti. Aquela música e aquela história marcaram a minha infância.

Algumas das minhas lembranças mais felizes envolvem a casa dela. Eu, minha irmã e minhas primas costumávamos nos sentar no muro e conversar por horas a fio aos finais de semana. Vira e mexe a dona Jacyra vinha até a porta, de avental, perguntar se a gente não queria comer alguma coisa ou tomar Guaraná - todos os refrigerantes eram Guaraná para ela, não importasse o rótulo.

Os anos se passaram e a cabeça da vovó deixou de funcionar como antes. Foi parando de cozinhar aos poucos, se esquecia para que servia o shampoo, parou de entender a televisão. Continuou comunicativa por muito tempo, mas as frases que dizia começaram a ficar desconexas e, por fim, perderam de vez o sentido. Parou de usar o telefone. De repente os nomes se embaralhavam como nunca, ficou difícil reter as coisas na memória. Sofreu quando teve de deixar a própria casa, a casa onde vivera por tantos anos, mas o tempo também se encarregou de fazer com que ela se esquecesse de que um dia essa casa existira.

Por diversas vezes ela ficou comigo e com os meus pais. Quando eu ia trabalhar de manhã e dizia "até de noite, vó", ela respondia "se Deus quiser" e sempre terminava com "tchau, linda". Ao chegar em casa à noite, ela abria os braços e o melhor dos sorrisos pra mim, certa de que receberia um abraço daqueles. Estava sempre quentinha e confortável no sofá. Gargalhava quando recebia cócegas. Segurava minhas mãos com força e as apertava em seu colo ou as balançava feliz.

Uma das histórias de que ela mais gostava era a de quando eu era pequenininha: eu queria balançar em um cavalinho e ela estava tomando conta de mim. Pedi pra ela balançar mais rápido, e ela me atendeu, mas é claro que caí no chão. Ela, então, pediu pra eu não contar pra minha mãe, mas eu chamei por ela e contei mesmo assim. Aos berros. Não tinha uma vez em que ela não ria se lembrando disso.

A vovó foi uma mulher tão boa. Nunca teve uma vida tranquila em termos de dinheiro e, mesmo assim, sempre encontrava uma maneira de ajudar os outros. Sua fé era inabalável, tanto que muitas vezes ela apontou para o céu e disse estar vendo carruagens se aproximarem com entidades inteiras vestindo branco. Ela adorava santos, anjos, fadas, orações, passes, água energizada. Meus tios disseram que, no hospital, ela afirmou que tinham pessoas chamando por ela. E deviam ter mesmo.

A vovó ainda não se foi, mas eu já estou escrevendo no passado, mesmo sem ter percebido. Minha mãe me disse há algumas horas que estava com um mau pressentimento. Meu coração se encolheu um pouquinho. Passei o final de semana rezando por ela. Chorei no metrô e até no trabalho. Acho que meu coração também sabe que falta muito pouco agora. A respiração vai cessar, os batimentos cardíacos também. A dor vai embora, levando pra longe o Alzheimer ou o que quer que seja que cismou em aparecer nos últimos anos. E a vovó vai colher os frutos dessa vida incrível que viveu aqui lá do outro lado. O lado para onde ela sempre soube que iria voltar.

Vó, acho que hoje a gente não vai se ver à noite. Aquele último abraço vai ficar para depois. Eu me lembro da sua voz e do seu cheiro. E vou seguir assim, eu prometo. Até a Lua parece mais brilhante pra você hoje.

Tchau, linda.

[Texto escrito em 19/06/2019, entre lágrimas e lembranças]

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

- a dor e o amor do tempo



Another turning point, a fork stuck in the road
Time grabs you by the wrist, directs you where to go
So make the best of this test and don't ask why
It's not a question, but a lesson learned in time
It's something unpredictable, but in the end it's right
I hope you had the time of your life

(Time of your life - Green Day)


Acho que eu comecei 2016 muito sensível. Talvez tenha sido o fato de ter passado o Réveillon longe dos meus pais e da minha família. Talvez tenha sido a chegada de mais um aniversário (não que isso vá mudar muito as coisas, mas agora meio que começou aquela famosa 'contagem regressiva' para os 30) ou o fato de que agora eu encontrei a versão mais pura do amor, representada pelo lindo presente de Natal antecipado que a minha irmã deu pra mim em forma de sobrinho.

A verdade é que agora, mais do que nunca, percebo o quanto o tempo é importante, o quanto o tempo muda as coisas. Vivemos em função do tique-taque do relógio e, ao mesmo tempo, não percebemos o quanto ele é implacável. O ponteiro nunca vai voltar para uma hora anterior, um minuto sequer; ele foi feito para ir adiante. Sempre. E em nossa vida atropelada, vivida na loucura do transporte público, na fila de um cinema, em uma conversa de WhatsApp, no volume de trabalho, na sobremesa que adoça um dia inteiro, rezamos para que o tempo passe depressa, porque acreditamos que, assim, chegará depressa também o tempo que temos para descansar ou fazer qualquer outra coisa que não seja ficar horas no escritório. Em nossa inocência, rezamos contra o tempo para que 'outro' tempo chegue mais rápido. Sim, somos loucos...

Eu costumo achar que tenho todo o tempo do mundo, confesso. Mas existe uma grande ampulheta por aí, derramando areia sem piedade e mudando tudo, o tempo todo. 

No ano passado, me despedi de um amigo que foi para o outro lado. Assim, do nada. No dia em que soube que ele estava doente, soube também que ele tinha falecido. Acho que, aos 40 anos, ele também pensava que o tempo demoraria mais a passar. Como uma folha levada pelo vento, ele deixou amigos, familiares, lembranças, risadas. Foi o meu primeiro grande amigo a ir embora, e as lágrimas daquele dia tiveram o gosto agridoce da saudade. 

Antes dele e depois dele outras pessoas também morreram, é claro. Algumas famosas, outras nem tanto - depende do ponto de vista. Assim como o ponteiro, elas seguiram adiante, com destino a outros mundos, outros amigos, outras famílias, outros desafios. E enquanto tantas vão, outras tantas vêm, espalhando uma alegria que não se sabe bem de onde veio, mas que se tem a certeza de que está bem viva dentro de nós. 

Não posso dizer que 2015 foi um ano ruim, porque não foi. Foram muitos sábados estudando, muitos filmes assistidos, muitas matérias redigidas, muito amor compartilhado, muitos gols perdidos, muitas noites bem dormidas (e outras tantas que parecem nem ter existido), muitos livros lidos, muitas gostosas gargalhadas, muitos bons amigos...

Uma amiga muito querida, que por uma feliz 'coincidência' do destino é a minha professora de yoga, sempre diz que yoga é muito mais o que acontece fora do tapetinho do que o que aprendemos em aula. Yoga é um estilo de vida, um jeito diferenciado (e elevado) de encarar tudo o que acontece com os olhos da alma, com sabedoria. E é isso o que eu espero para o meu 2016, mesmo tendo descoberto há algumas horas que, infelizmente, talvez a yoga não faça mais parte do meu ano. 

Depois de cinco anos, é doloroso demais ter que sequer cogitar a ideia de deixar temporariamente de lado esta parte da minha vida que eu tanto amo. Mas se eu aprendi algo ao longo de todo este tempo é que nós devemos encarar as dificuldades com o peito aberto, de ombros abertos, olhando sempre para a frente. Encarando a vida de frente. E por mais que o barulho do tique-taque às vezes pareça ensurdecedor, toda a força que eu preciso está em mim. E isso basta. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Um dia você aprende que...

Banco de imagens do Google

Gratidão: juros da consciência
(Vítor Caruso)

Mais um ano está chegando ao fim e acho que é importante reconhecer as lições que pude aprender ao longo destes 12 meses. Vamos lá:

- Às vezes é preciso mudar para que a vida ganhe um novo sentido. Nosso dia a dia é uma caixinha de surpresas; imprevisível demais para nos apegarmos a situações ruins e sentimentos já ultrapassados apenas por ser mais cômodo manter as coisas como estão;

- A frase "o ano passou rápido demais" não pode ser uma desculpa para deixar para trás grandes amigos. Só percebemos o quanto sua companhia nos faz falta quando nos sentamos ao seu lado e relembramos o porquê de nos entendermos tão bem;

- Viajar expande horizontes e te coloca em contato com culturas e idiomas diferentes. Não há nada de errado nisso (principalmente se você viajar em classe executiva e puder dormir durante todo o voo); 

- As pessoas são diferentes e é preciso enfatizar mais suas qualidades do que seus defeitos. No fundo, todos lutamos pelas mesmas coisas: um trabalho digno, dinheiro suficiente para pagar as contas e garantir certo padrão de vida, amigos sinceros e amor correspondido; 

- Nunca estaremos completamente satisfeitos no trabalho. O salário talvez não seja dos melhores, mas me garante aquela entrada de R$ 25 no cinema (o que é um grande absurdo) e um ingresso de R$ 360 para o show do Bon Jovi. Porém, antes de tudo, é importante refletir: eu realmente faço aquilo que amo? É realmente inevitável se irritar com clientes e trabalhar sob pressão em 25 dos 30 dias de cada mês?

- Bons livros são nossos melhores amigos. Obrigada, J.J Benítez, por escrever os nove volumes de Operação Cavalo de Troia!

- Ter fé não significa ir para a igreja ou frequentar um centro espírita todas as semanas. Conversar com Deus antes de dormir, meditar, respeitar o próximo e saber agradecer pelas dádivas recebidas todos os dias já tornam o mundo um lugar muito mais agradável de se viver;  

- O amor é, de fato, o mais bonito dos sentimentos e pode, sim, por experiência própria, nascer a partir de uma bela amizade. Não há nada capaz de superar a cumplicidade, a gentileza, o carinho, a boa vontade ou um abraço apertado depois de um dia difícil. Amar é esquecer todos os problemas só de ver o outro sorrir;

- É extremamente importante saber perdoar e se colocar no lugar da outra pessoa quando as coisas fogem ao nosso controle. Infelizmente ainda somos egoístas demais e acreditamos que o mundo existe para nos servir. Se a dor for forte, experimente parar de falar sobre o assunto. O tempo cuida do resto;

- Verdadeiros amigos sempre reaparecem. É assim que Deus nos mostra quem são os protagonistas da nossa história;

- Deus não só escuta seus pedidos, como move céus e terras para atendê-lo do melhor modo possível. Experimente silenciar a mente e ouvi-Lo de vez em quando; 

- Baladas têm prazo de validade (e o meu já venceu). Nada contra música alta, mas estes lugares sugam nossa energia como um aspirador recolhe o pó acumulado debaixo da cama; 

- Pratique yoga e desfrute de seus maravilhosos efeitos colaterais. A yoga não só acalma a mente, como incentiva o autocontrole e a disciplina, características necessárias em qualquer momento de nossa vida;

- Ser tolerante vai muito além de concordar com o que a outra pessoa diz apenas para que ela fique quieta mais rápido (e esta é uma virtude que preciso desenvolver com urgência); 

- As coisas boas sempre se sobrepõem às ruins. Se você parar para pensar, tem muitos mais motivos para comemorar do que para se entristecer. É o que dizem: "quando uma porta se fecha, uma janela se abre" (é isso mesmo? não sei...). Se o ditado estiver certo, basta ter a coragem necessária para ir além do parapeito;

- Todos nós carregamos um "sexto sentido" que só precisa ser desabrochado;

- Acredite na sua intuição (e na intuição da sua mãe. Ela NUNCA erra);

- Como diria William Shakespeare, "não importa o quanto você se importa, algumas pessoas simplesmente não se importam". Isso significa que pessoas queridas vão te entristecer em algum momento - seja na aparente falta de interesse, no orgulho demasiado ou na displicência com que lidam com suas boas notícias. Nem todo mundo consegue, pelo menos por enquanto, ficar feliz pelas conquistas dos outros e é preciso saber compreender. Isso não significa que não gostem ou torçam por você;

- Tire fotos. As imagens têm o poder de gravar, para sempre, um cenário, um momento, um rosto. Por mais que a sua memória seja boa, alguns detalhes vão se perdendo naturalmente e é sempre gostoso sentir aquele friozinho na barriga ao ver uma foto e poder reviver determinada situação; 

- Faça aquilo que você realmente tem vontade. Nem todo mundo entende meu desejo de falar árabe, mas só eu sei a satisfação que me dá saber falar e escrever "eu gosto de ler histórias" ou "tenho fome" naquele idioma cujo alfabeto é, segundo minha avó, "cheio de desenhos". Somos movidos por desejos tão íntimos que talvez nem nós consigamos compreender, em um primeiro momento, a necessidade de satisfazê-los. 


Cante mais, cante errado ou cante fora do ritmo. Dance descontroladamente, aprenda a tocar um instrumento qualquer, leia gibis, assista a filmes ruins, ria de si mesmo, vá a parques de diversão, conte piadas, desenhe (ou ria dos seus desenhos, no meu caso), coma feijão com gelatina se quiser (e juro que tem quem queira e diga que é delicioso), faça simpatias, persiga seus sonhos, estude. Divirta-se, desapegue-se, acredite. Transforme-se e, junto com você, transforme todos que estiverem ao redor. A vida não tem hora marcada para acabar, então não é como se tivéssemos todo o tempo do mundo. 

Esta é a mensagem que deixo para 2014, que já bate à nossa porta com 365 oportunidades. Aproveite! :-)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

- quando foi que eu entrei pra sua história?

Banco de imagens do Google
A vida é uma coisa engraçada. Ontem peguei um caderno antigo e li partes de textos que eu mesma escrevi há três, quatro anos. Foi divertido relembrar situações já em partes esquecidas, mas, além do alto nível de drama em quase tudo o que continha a minha letra, fiquei feliz por perceber que eu mesma não mudei com o tempo.

 É claro que desenvolvi umas poucas qualidades a mais e, digamos, consegui aperfeiçoar alguns defeitos, mas a essência permanece intacta, assim como as principais pessoas com as quais me relacionei ao longo dos anos.

Fiquei com pena de mim mesma ao ver quantas horas perdi escrevendo sobre queridos e queridas que simplesmente não valiam a pena, mas hoje sei da importância dessas dificuldades e consigo olhar pra trás sem sentir vontade de fazer grandes alterações. Em meio a cartas e cartões recebidos nestas 23 primaveras, percebi que a maior parte dos destinatários continua ao meu lado, enquanto outros não foram além das palavras, ainda que seu eco até seja gostoso de se ouvir de vez em quando...

As situações mudaram e, é claro, parte de mim se deixou transformar com elas. Mesmo assim, sempre fico com a sensação de que o tempo é, sim, capaz de superar tudo e de que não importa quantos séculos passem e quantas vezes o cenário mude: os personagens sempre serão os mesmos, ainda que com papeis diversos. Ainda bem! Não imagino minha história, em qualquer época que seja, escrita por mãos diferentes. Nada mais lógico, afinal... tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. :)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

maktub


Banco de imagens do Google
♫ Tempo, tempo, tempo, tempo... és um dos deuses mais lindos... ♪

Apesar de o ano ainda não ter chegado ao fim, esta época é sempre propícia para qualquer tipo de reflexão. O que fiz nesses últimos 12 meses? Quantos sonhos realizei? Quantos corações parti? Quantos caminhos percorri? Quantas pessoas deixei para trás?

Não sei responder a nenhuma dessas perguntas com exatidão, mas posso dizer que trabalhei, que dancei, que sorri, que chorei, que vivi, que sofri. Vi minha irmã se casar, embarquei e desembarquei, pisei na areia e deixei o mar levar pra longe todas as preocupações. Dormi tarde, acordei cedo, tomei chuva, afundei o pé na lama e depois lavei pra deixar branquinho. 

Fui ao cinema, andei de bicicleta, fiz yoga, ganhei no bingo. Vi pessoas queridas se afastarem lentamente, perdendo-se na névoa do passado, e o destino se encarregar de colocar mais uma vez na minha vida grandes amigos, desenhando, assim, um futuro muito mais feliz. Fui ao karaokê, brinquei de amigo secreto, joguei bola, aproveitei a piscina. Passei frio, calor, nervoso e ansiedade. Tive saudade, tive medo, tive vontade e tive esperança. Li, escrevi, falei, desprendi. 

Vi o Corinthians conquistar o mundo no Japão e, do lado de cá do planeta, empatar com a Portuguesa em pleno Pacaembu. Fui anfitriã, hóspede, turista, assessora de imprensa, conselheira, ovelha negra. Perdi tempo com besteira e depois desejei poder voltar e fazer tudo de novo. Chorei de saudade na plataforma do trem e no check-in do aeroporto e aprendi que as pessoas não mudam só por estarem longe dos nossos olhos. 

Gastei dinheiro, cortei o cabelo, abusei da comida e descobri que não tenho vocação alguma para o videogame. Ri até perder o fôlego, passei raiva com o metrô, fiquei de mau e fiz as pazes com o Universo. Senti alívio, tive sonhos misteriosos e sobrevivi a um suposto fim do mundo. Descobri que para se curar de alguma coisa não é preciso mais do que energia e consciência tranquila e que afinidade é uma sensação inconfundível, intransferível e que, quando ausente, consegue deixar um coração inteiro em branco.    

Procurei fotos antigas (e outras não tão antigas assim) só pra viver de novo aquele momento e me perder nos mesmos sorrisos. Descobri que a ajuda às vezes vem de quem você menos espera e que, apesar de doloroso em alguns casos, é preciso praticar o desapego com tudo o que nos cerca: roupas, amigos, amores, sentimentos, lembranças...

Vi mais televisão do que devia, me envolvi mais do que podia e comprovei o que todos já sabiam: aprender árabe não é pra qualquer um! Reclamei do árbitro, gritei com os vizinhos (hihihi) e, vale dizer, não fui nada paciente. Descobri - ou melhor, redescobri - que as palavras têm mais força do que imaginamos e que - céus! - o pensamento vai ainda além.

Agitado, intenso, confuso e imprevisível, 2012 foi, antes de tudo, uma bênção. Chuqran!

domingo, 29 de abril de 2012

salaam aleikum

Banco de imagens do Google

"Meu coração e meus cinco sentidos se achavam a quatro metros de mim mesmo: na figura daquele homem de mais de um metro e oitenta de estatura que ali estava agora, encurvado e maltratado." 



Aproveito este tranquilo domingo, 29 de abril, para escrever sobre algo que verdadeiramente mexeu comigo. Terminei, há algumas semanas, a leitura do primeiro volume da coleção Operação Cavalo de Troia. O que começou como mera curiosidade - iniciada anos atrás, quando via o livro entre as coisas da minha mãe -  se mostrou uma verdadeira fonte de prazer e conhecimento.

Para aqueles que não sabem sobre o que é a história, trata-se de um suposto projeto da Nasa, executado na década de 1970, responsável por levar dois militares norte-americanos ao passado. Mais especificamente, à última semana de Jesus Cristo na Terra, na Palestina de dois mil anos atrás. 

A expedição se desenrola a partir de um diário escrito pelo major, que percorreu as ruas da Palestina à procura de Cristo, seus apóstolos e amigos, assim como dos demais personagens que figuram na Bíblia. Cético, o militar foi escolhido, dentre um numeroso grupo de oficiais dos Estados Unidos, justamente por sua falta de crença e desapego a qualquer religião. 

Ao chegar, rapidamente ganha a confiança e a amizade de Lázaro, homem a quem Jesus tinha ressuscitado poucos dias antes, e sua família. E é na presença destas pessoas que o major se encontra com o Mestre pela primeira vez. Mesmo rodeado por muitas pessoas, Cristo se levanta e caminha até sua direção, colocando Suas mãos em seus ombros e dizendo "Sê bem-vindo" com um sorriso. Após este primeiro contato, o militar confessa ter sentido todo o seu corpo trêmulo, indicando a enorme força energética que  emanava daquele Homem.

Com o passar dos dias, o oficial se mantém lado a lado com o Rabi da Galileia, ouvindo Seus ensinamentos e desvendando alguns mistérios de sua fascinante personalidade. Cada vez mais atraído por tudo o que Ele diz, o major vai deixando sua descrença para trás, abrindo espaço para uma fé jamais imaginada. Sua mente, antes dominada pela ciência, passa a concordar com cada palavra dita pelo Mestre e seu coração indica um desejo ardente de acompanhá-Lo a qualquer lugar.

Munido com a mais alta tecnologia, o que lhe permite gravar, analisar e recolher dados do passado para, depois, examiná-los em "seu tempo", o norte-americano tem como um dos objetivos de sua missão a triste tarefa de ficar próximo ao Cristo também no momento de sua captura, julgamento e crucificação, verificando - até perto demais - todo o Seu sofrimento. 

Exercitando toda a parcialidade da qual tenho direito, considero este livro como um dos mais tristes do mundo. É impossível não se deixar abater pelas torturas e pela injustiça que o Rabi sofreu. Mais difícil ainda é imaginar uma legião de pessoas torcendo pela morte de alguém cujo pecado foi pregar o bem e a paz. 

É claro que o livro é muito mais complexo e emocionante do que este simples resumo que escrevi. Também tenho perfeita noção da possibilidade de que nada disso tenha acontecido, sendo fruto apenas da rica imaginação de um escritor espanhol. Ainda assim, sinto-me na obrigação de partilhar com vocês o meu desejo de acreditar nesta incrível experiência. Por quê? Porque acreditando em sua veracidade, é como se eu também estivesse perto Dele. É como se eu também estivesse presente em todas as suas pregações e, a partir disto, pudesse usar seus conceitos e parábolas em meu próprio benefício.

Desde que li a última página do livro, me pego pensando Nele e em todas as Suas grandes ações. Será que, hoje, as pessoas saberiam compreendê-Lo? Como seria abraçá-Lo ou ouvi-Lo falar? Todas as noites, antes de cair no sono, peço a Deus que me deixe sonhar com Ele. Só um pouquinho. Só pra matar a saudade.

"E pelas três horas e trinta minutos, depois de beijar o solo rochoso da cripta, deixei o horto de José de Arimateia. Os soldados da Fortaleza Antônia ali continuavam, desmaiados, como testemunhas mudas da mais formidável notícia: a ressurreição do Filho do Homem.

Pelas cinco horas e quarenta e dois minutos daquele domingo de glória, 9 de abril do ano 30 de nossa era, o módulo decolou ao nascer do Sol. Ao voltarmos para o futuro, uma parte do meu coração ficou para sempre naquele tempo e naquele Homem, a quem chamam  Jesus de Nazaré. "