sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

- a dor e o amor do tempo



Another turning point, a fork stuck in the road
Time grabs you by the wrist, directs you where to go
So make the best of this test and don't ask why
It's not a question, but a lesson learned in time
It's something unpredictable, but in the end it's right
I hope you had the time of your life

(Time of your life - Green Day)


Acho que eu comecei 2016 muito sensível. Talvez tenha sido o fato de ter passado o Réveillon longe dos meus pais e da minha família. Talvez tenha sido a chegada de mais um aniversário (não que isso vá mudar muito as coisas, mas agora meio que começou aquela famosa 'contagem regressiva' para os 30) ou o fato de que agora eu encontrei a versão mais pura do amor, representada pelo lindo presente de Natal antecipado que a minha irmã deu pra mim em forma de sobrinho.

A verdade é que agora, mais do que nunca, percebo o quanto o tempo é importante, o quanto o tempo muda as coisas. Vivemos em função do tique-taque do relógio e, ao mesmo tempo, não percebemos o quanto ele é implacável. O ponteiro nunca vai voltar para uma hora anterior, um minuto sequer; ele foi feito para ir adiante. Sempre. E em nossa vida atropelada, vivida na loucura do transporte público, na fila de um cinema, em uma conversa de WhatsApp, no volume de trabalho, na sobremesa que adoça um dia inteiro, rezamos para que o tempo passe depressa, porque acreditamos que, assim, chegará depressa também o tempo que temos para descansar ou fazer qualquer outra coisa que não seja ficar horas no escritório. Em nossa inocência, rezamos contra o tempo para que 'outro' tempo chegue mais rápido. Sim, somos loucos...

Eu costumo achar que tenho todo o tempo do mundo, confesso. Mas existe uma grande ampulheta por aí, derramando areia sem piedade e mudando tudo, o tempo todo. 

No ano passado, me despedi de um amigo que foi para o outro lado. Assim, do nada. No dia em que soube que ele estava doente, soube também que ele tinha falecido. Acho que, aos 40 anos, ele também pensava que o tempo demoraria mais a passar. Como uma folha levada pelo vento, ele deixou amigos, familiares, lembranças, risadas. Foi o meu primeiro grande amigo a ir embora, e as lágrimas daquele dia tiveram o gosto agridoce da saudade. 

Antes dele e depois dele outras pessoas também morreram, é claro. Algumas famosas, outras nem tanto - depende do ponto de vista. Assim como o ponteiro, elas seguiram adiante, com destino a outros mundos, outros amigos, outras famílias, outros desafios. E enquanto tantas vão, outras tantas vêm, espalhando uma alegria que não se sabe bem de onde veio, mas que se tem a certeza de que está bem viva dentro de nós. 

Não posso dizer que 2015 foi um ano ruim, porque não foi. Foram muitos sábados estudando, muitos filmes assistidos, muitas matérias redigidas, muito amor compartilhado, muitos gols perdidos, muitas noites bem dormidas (e outras tantas que parecem nem ter existido), muitos livros lidos, muitas gostosas gargalhadas, muitos bons amigos...

Uma amiga muito querida, que por uma feliz 'coincidência' do destino é a minha professora de yoga, sempre diz que yoga é muito mais o que acontece fora do tapetinho do que o que aprendemos em aula. Yoga é um estilo de vida, um jeito diferenciado (e elevado) de encarar tudo o que acontece com os olhos da alma, com sabedoria. E é isso o que eu espero para o meu 2016, mesmo tendo descoberto há algumas horas que, infelizmente, talvez a yoga não faça mais parte do meu ano. 

Depois de cinco anos, é doloroso demais ter que sequer cogitar a ideia de deixar temporariamente de lado esta parte da minha vida que eu tanto amo. Mas se eu aprendi algo ao longo de todo este tempo é que nós devemos encarar as dificuldades com o peito aberto, de ombros abertos, olhando sempre para a frente. Encarando a vida de frente. E por mais que o barulho do tique-taque às vezes pareça ensurdecedor, toda a força que eu preciso está em mim. E isso basta. 

5 comentários:

  1. Ler qualquer texto seu é tão gostoso...e esse foi simplesmente lindo! ❤

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    1. Linda! Que bom que gostou! Veio uma inspiração súbita e uma vontade louca de escrever! 💜

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  2. Perfeição como sempre ao transcrever em forma de palavras a incompletude e angustia do homem moderno, a luta constante em tentar controlar o que não está em nossas mãos. Parabéns pelo texto, Bruh *.*

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